A canção 'Tourada' venceu o Festival da Canção em 1973. Meio século depois, o homem que lhe deu voz vai celebrar a data com concertos em Lisboa e no Porto.
Como é que é possível que a televisão oficial de um país boicote a canção que acabou de ganhar? A liberdade é algo que a gente quer ou não quer. Tratava-se apenas da utilização surpreendente de um vocabulário riquíssimo, que é o vocabulário da tourada. O leque de hipóteses que o Ary dos Santos tinha no papel era tão grande que a canção não tem repetições. Em 99 por cento dos casos, eu fazia primeiro a melodia e só depois é que o Ary dos Santos fazia os textos. A celebração dos 50 anos da canção que saiu vitoriosa no Festival da Canção de 1973 está marcada para o dia 26 de fevereiro no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, e a 11 de março na Casa da Música, no Porto. Um grande elogio que tem de ser feito ao José Carlos Ary dos Santos é sobre a capacidade única que tinha de trabalhar a letra sem que a melodia fosse alterada. E também convidei o Ricardo Ribeiro e a Picas. A 'Tourada' passou a ser uma canção ligada a uma espécie de apetite do público. Pensou-se que a lírica era apenas um exercício satírico sobre a tauromaquia e não uma crítica acutilante à sociedade da época que, daí a um ano, estaria a testemunhar a revolução de Abril e a subsequente queda da vigência e postura do regime ditatorial. Com um ritmo "piruliteiro", como adjetiva Fernando Tordo, a canção, que estava carregada de críticas ao regime político e ao "snobismo" social da época, escapou à ação da censura. Musicada por Fernando Tordo e com letra de José Ary dos Santos, foi a canção que venceu o Festival da Canção de 1973, quando o Estado Novo, na altura mais enfraquecido e nas mãos de Marcello Caetano, ainda era vigente.