Fábio Porchat está de volta a Portugal para dois espetáculos de stand up. Prestes a completar 40 anos, mantém a irreverência que o celebrizou e a vontade de ...
Uma década de A Porta dos Fundos mostrou-lhe, no entanto, que se a religião é um tabu, existem outros temas igualmente delicados: "Não é fácil falar de injustiça social, do autoritarismo e dos preconceitos dos ricos. E conclui: "É o ónus da fama e é bom que seja pago nos meus próprios termos." Dizendo-se ateu, não tem uma visão preconceituosa sobre crentes e instituições: "No Brasil fala-se muito sobre o apoio dos evangélicos a Bolsonaro e, em consequência disso, passaram a ser olhados de lado. A 8 de setembro de 2015 o Porta dos Fundos comemorou o recorde de 2 mil milhões de visualizações em todos os vídeos publicados no YouTube, sendo o vídeo intitulado "Na Lata" "responsável " por 20 milhões de visualizações. Foi a constatação para Fábio Porchat de que a religião é um dos últimos tabus: "As questões religiosas são as mais espinhosas mas temos que falar disso também, sem que, alguma vez, se incite ao ódio e intolerância", diz o humorista, para quem as reações "dizem mais sobre quem protesta do que sobre a piada em si." Sim, há pedófilos e têm de ser expostos mas a maior parte dos crentes não o são. Em março de 2012, os cinco amigos criaram o canal Porta dos Fundos, que lançaria o primeiro vídeo a 6 de agosto de 2012. O ministro do Ambiente odiava o ambiente, a dos Direitos Humanos achava que não existem direitos humanos, o da Educação era contra a educação pública, o ministro da Saúde era contra a vacina. Fábio Porchat, que está de volta à Europa para uma tournée com o seu espetáculo de stand up (a 13 de fevereiro no Coliseu do Porto, a 15 no de Lisboa) não sente a obrigação de rir a propósito de tudo e de nada para demonstrar aos jornalistas como, na última década, se tornou um dos mais populares humoristas brasileiros. No final de 2011, Fábio e Ian SBF, fundadores do canal do YouTube Anões em Chamas, e Antônio Tabet, criador do site de humor Kibe Loco, decidiram formar uma parceria para lançar um canal com sketchs ácidos sobre a vida pública e brasileira com uma liberdade que não teriam na televisão. Ao longo de quase 20 anos de trabalho, compreendi que a comédia tem de lançar luz sobre temas controversos mas também tem de apagar outros se o estado de espírito das pessoas o exige. O que não foi tarefa fácil no Brasil de Bolsonaro, bastando, para isso, recordar que, na véspera de Natal de 2019, a sede da produtora da popular série A Porta dos Fundos (co-criação sua, com vários amigos e colegas, como mais adiante veremos) foi atacada com cocktails molotov depois da apresentação na Netflix do vídeo A Primeira Tentação de Cristo, onde Jesus Cristo era apresentado como homossexual.