Educador musical Gil Amâncio abre mão de ceia em família para levar uma mensagem de esperança a adolescentes em conflito com a lei na Fundação de ...
Tem muitos jovens com inteligências aguçadas que estão constrangidos, isolados, e o Estado não tem condição de administrá-los.” A cada um, questiona: “quando você era criança, você tinha um sonho, não tinha?”, pergunta Gil a Artur*, de 17 anos, que de cabeça erguida responde - “sempre fui sonhador e isso é o que me mantém vivo”. É difícil entender por que alguém abdicaria de uma ceia em família, em casa, por uma prisão. “Um disse: ‘o senhor poderia estar com sua família e o senhor está aqui’, como se não se sentisse merecedor disso. Faz sentido como um dos dizeres escrito por um jovem na parede da Funase: ‘pra ganhar, tem que perder. Não se sabe qual o passado que fez o presente de cada um ser uma conversa com estranhos por trás de grades e cadeados, mas se vê que esse passado não foi capaz de apagar a inocência da juventude. Nas celas, os símbolos de esperança estão por todos os lados, com paredes repletas de palavras de incentivo e desabafos. “Então, quando você sair daqui, vá atrás do seu sonho, para não voltar”. Então, virou a árvore de natal”, descreveu. “Vocês também podem brilhar como a árvore”. Em um corredor molhado, repleto de celas onde entre um e três adolescentes esperam, ansiosos, suas sentenças por até 45 dias, posicionou - junto à poetisa Si Cabral - uma pequena e desgrenhada árvore de natal decorada. Usa o talento para resgatar sonhos e arrancar o estigma do fracasso de histórias ainda curtas, cujo curso, por vezes, começou a ser escrito antes mesmo do nascimento dos meninos e meninas - de imensa maioria negra - reclusos e distribuídos em dois pavilhões.