Não existe nada como "Sandman". Em um mundo acelerado, em que filmes e séries de aventura e fantasia entrecortam fragmentos de roteiro com ação vertiginosa, ...
Sem falar de um breve interlúdio, apresentado no sexto episódio, que reafirma o poder da mitologia traçada por Neil Gaiman. Tudo isso enquanto faz seu próprio trabalho, apresentado de forma bela e melancólica. É um respiro de efeito emocional devastador, amarrado, dado seus protagonistas, por uma dinâmica familiar inusitada. Nas mãos de uma equipe criativa mais vulgar e imediatista, "Sandman" poderia se tornar um desfile de monstros, deuses e demônios em uma batalha explosiva pelo poder. Essa característica, especialmente em Morfeu, elevam "Sandman" a outro patamar narrativo, dramático e visual. Ainda assim, é uma construção de personagem necessária para assentar blocos narrativos que serão desfraldados ao longo da série. Com a liberdade, Gaiman reposicionou o Sandman longe de suas origens como um super-herói de traje colorido. O modo que a trama incorpora problemas vivenciados no mundo real é brilhante. Depois de escrever a minissérie "Orquídea Negra", ele recebeu a tarefa de reimaginar o personagem clássico da forma que achasse melhor. Lançado em 1989 pela DC Comics, antes de ser posicionado no selo Vertigo, "Sandman" foi o primeiro grande trabalho do inglês Neil Gaiman para a editora. O tempo foi generoso para que surgisse a oportunidade correta com as pessoas certas. A jornada empreendida em "Sandman" é, por sua vez, de introspecção. Não havia como ser diferente. Essa pausa é necessária para entender o mundo apresentado em "Sandman". A fantasia moderna é, afinal, ditada por batalhas épicas, maquinações políticas e, não raro o destino do mundo.
Série que estreia nesta sexta-feira (5) supera problemas de ritmo graças à força da história e dos personagens de Neil Gaiman e às atuações dos sonhos de ...
E "Sandman" é, sob qualquer ponto de vista, um êxito enorme. Tom Sturridge em cena de 'Sandman' — Foto: Divulgação Há problemas no reinado de Morpheus, é claro. Por sorte, esses instantes são passageiros e até fazem certo sentido. Para a maioria dos leitores de quadrinhos das últimas três décadas, a estreia da série "Sandman" nesta sexta-feira (5) é a realização de um sonho. Os defeitos, no entanto, não são suficientes para tirar o sono dos fãs de longa data.
Clássico absoluto de Neil Gaiman, Sandman passou por inúmeras tentativas de adaptação em live-action ao longo dos anos. Extremamente protetor em relação à ...
Ainda que não repita a incomparável genialidade da HQ de 1988, o seriado é, pelo menos, uma ótima porta de entrada para curiosos e pode atrair toda uma nova geração de fãs que ainda não havia tido contato com as histórias de Sonho e seus irmãos Perpétuos. Por mais que tenha um orçamento generoso para uma série (cerca de US$165 milhões), o CGI de Sandman é tão irregular quanto seu ritmo, alternando entre criaturas fantásticas belíssimas com cenários digitais claramente artificiais e que testam a imersão do público como poucas produções de custo tão alto. Apesar de um ou outro tropeço em sua execução, a primeira temporada de Sandman na Netflix consegue corresponder a boa parte das expectativas que a cercavam. De forma geral, a série de Sandman segue a mesma trama que os quadrinhos: Sonho dos Perpétuos (Tom Sturridge) é capturado num ritual de magia das trevas por Roderick Burgess (Charles Dance), que o aprisiona por mais de um século. Quando escapa, o Rei dos Sonhos parte em uma jornada para recuperar seu poder e seu reino. Mesmo que se desenvolva de forma diferente do que a das páginas, a narrativa surge tão angustiante quanto em sua versão original, apoiada na atuação arrepiante de David Thewlis. O criador de Sandman usa sua liberdade criativa para atualizar personagens, cenas e situações icônicas sem deixar que a essência da história original se perca em meio a essas adaptações. O bom olho do autor para mudanças pode ser comprovado em “24/7”, capítulo que recria a emblemática história em que John Dee usa o Rubi de Sonho para torturar os fregueses de uma pequena lanchonete de beira de estrada.
Quando Morpheus (Tom Sturridge), o Mestre dos Sonhos, anuncia o abandono de seus domínios para capturar o pesadelo perdido que anda deixando um rastro de ...
*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Num mundo imerso no pesadelo de um retorno do autoritarismo e de ideias obscurantistas, a areia de Morpheus é um sopro de vida. Inspirado num personagem do folclore nórdico que soprava areia nos olhos das crianças para fazê-las terem bons sonhos, o Morpheus moderno é quase um super-herói com pele alva e cabelo espetado como os de um roqueiro pós-punk — o impassível Tom Sturridge revela-se uma escolha fiel para o papel. Em Sandman, é de cortar o coração a cena que envolve um Gárgula fofo e seus donos, os irmãos Caim e Abel, condenados a repetir eternamente o destino fratricida da Bíblia num recanto idílico do Sonhar. É, portanto, um baque quando o senhor do Sonhar vem à esfera terrena para sua missão e, no instante em que tenta deter o pesadelo Coríntio (Boyd Holbrook, de Narcos), acaba ele próprio aprisionado pelas mãos de um mago meio picareta da Londres dos anos 1910, Roderick Burgess (Charles Dance). Na verdade, o feitiço desse bruxo de araque havia sido lançado com um outro objetivo, o de aprisionar a Morte, irmã mais velha de Morpheus, a fim de exigir-lhe que traga de volta seu filho, que morreu em batalha na I Guerra. Morpheus caiu na arapuca de Burgess por engano, mas pode ser útil: seu elmo, rubi e saco de areia contêm propriedades que trarão riqueza ao bruxo enquanto confinar o Mestre dos Sonhos dentro de uma esfera de vidro. Quando Morpheus (Tom Sturridge), o Mestre dos Sonhos, anuncia o abandono de seus domínios para capturar o pesadelo perdido que anda deixando um rastro de sangue no Mundo Desperto (ou a realidade como a conhecemos), sua assistente Lucienne (Vivienne Acheampong) questiona, com um ar de quem já sabe bem a resposta: “Milorde, o senhor vai voltar, não vai?”. O carrossel de reviravoltas que se desenrolam a partir daí ilustra os voos de imaginação de que se faz The Sandman, série que chega à Netflix mundialmente nesta sexta, 5.
A série Sandman, adaptação da premiada obra de Neil Gaiman para a DC Comics, está finalment…
No período em que esteve preso, muito mudou e além do seu reino estar despedaçado, os humanos não sonham da mesma maneira e terá de começar a trabalhar para recuperar a glória da sua dimensão. Os principais responsávels pela adaptação afirmam que respeitaram a obra de Gaiman e que foi seguida de forma fiel e uma vez que é inspirada no primeiro volume de The Sandman, verás Sonho a escapar do seu cativeiro mais de 100 anos após ter sido preso por um culto. A série Sandman, adaptação da premiada obra de Neil Gaiman para a DC Comics, está finalmente disponível na Netflix, através de 10 episódios que podes assistir a partir de agora no serviço de streaming.
Crítica: Sandman, Temporada 1. Primeira temporada da série da Netflix é a personificação dos sonhos de Neil Gaiman. em ...
É encantador ver como trabalharam a primeira temporada, como se esforçaram para respeitar os quadrinhos ao mesmo tempo em que faziam com que a série se tornasse única e especial. No fim, dá para entender o motivo para Neil Gaiman estar tão animado com essa série. Este é o sonho do autor que migra para o live-action, preservando a essência desta história única e dos seus personagens tão complexos e cativantes. Com dois grandes volumes sendo trabalhados, vemos uma produção que não perde tempo “enchendo linguiça” ou enrolando o fã para que o clímax e resolução aconteçam apenas nos minutos finais da temporada. As mudanças, porém, não pararam por aí. Diversos arcos foram simplificados ou alterados de alguma maneira, o que resulta em um maior dinamismo para a trama e um seriado mais envolvente. Em um momento em que muito se reclama sobre como séries estão parecendo cada vez mais filmes de oito ou dez partes, Sandman consegue escapar disso. É de se esperar que nas próximas temporadas essa transição seja mais suave. Além do excelente trabalho de roteiro, a série conta com um elenco que esbanja talento. Por este motivo, o projeto da Netflix toma decisões bem interessantes para garantir que vejamos uma narrativa envolvente e impactante. Com mudanças pontuais que simplificam arcos mais complexos e, na mesma medida, enriquecem o projeto que vemos em live-action, o que temos é uma adaptação simplesmente maravilhosa. O que faz esses personagens serem especiais e marcantes nas HQs ainda está presente, mesmo que alguns detalhes da história clássica estejam diferentes. Desde que as primeiras informações sobre o seriado surgiram, já ficou claro que não veríamos uma tradução exata das páginas dos quadrinhos. Entre bruxas, heróis, vilões e Deuses, o que vemos se desenrolar pelas páginas são histórias delicadas, nauseantes, assustadoras ou simplesmente insanas.
O inglês fala sobre a criação da série, o sucesso das tramas de fantasia e as lições que se pode extrair delas.
Ele expõe o que acontece com as pessoas quando você tira os sonhos delas. Creio que os sonhos são as coisas mais importantes que existem. Num episódio marcante da série, o personagem John Dee usa um rubi mágico para subtrair os sonhos das pessoas numa lanchonete, com resultados trágicos. O que quer transmitir com tramas assim?
A equipe de Neil Gaiman fez jus a The Sandman, com uma primeira temporada quase que irrepreensível, embora algumas mudanças possam incomodar.
Neste sentido, em outros momentos, a fotografia e a direção de arte, geralmente eficientes na criação do clima necessário da narrativa, surgem demasiadamente “limpas”, o que tira um pouco o peso desses momentos específicos, fazendo falta o tom mais sujo que a HQ entrega — e ver as artes magníficas do lendário Dave McKean nos créditos dos episódios reforça ainda mais essa sensação. Afinal, considerando que, colocando em termos mundanos, uma das tramas centrais dessa primeira temporada é Sonho tentando reerguer o seu reino e status, como um rei inicialmente ignorante de seu papel no grande esquema das coisas, Matthew age como o “bobo da corte”, que, em sua insignificância, conta verdades que seu arrogante mestre não quer ouvir, algo parecido com o que Kurosawa fez com o Soberano e o Bobo no clássico “Ran”. Nas HQs ele é introduzido apenas em arcos posteriores, mas é trazido para esse início para servir como “orelha” de Sonho e agir um pouco como sua consciência — papéis que ele também desempenha no original, diga-se. Embora Gwendoline Christie se saia bem no “duelo” com Tom Sturridge, sua Lúcifer ainda necessita de um pouco mais de malícia e sedução, se postando com um ar excessivamente etéreo que não encaixou muito bem, o que contrasta com o acerto que foi a criação do inferno onde ela está inserida, construído pelos próprios condenados. Finalmente livre, um debilitado Sonho deve restaurar o seu reino e trazer de volta as entidades que escaparam, dentre eles um pesadelo particularmente perigoso chamado Coríntio (Boyd Holbrook), em uma jornada que o levará até mesmo para o meio do Inferno. Nisso, temos o verdadeiro achado que foi Tom Sturridge, que encontrou a voz perfeita para Sonho, diga-se.